Bitcoin e Computação Quântica: Desafios para a Segurança da Criptografia

A computação quântica pode quebrar a criptografia do Bitcoin? Este artigo explora os riscos que a tecnologia quântica representa para a segurança das criptomoedas e analisa soluções como assinaturas pós-quânticas e o BIP-360. Entenda como proteger seus ativos na era quântica.

Bitcoin e Computação Quântica: Desafios para a Segurança da Criptografia

Fabio Seixas

Especialista em software sob medida + IA

A computação quântica está avançando a passos largos, oferecendo novas possibilidades tecnológicas, mas também trazendo desafios consideráveis para a segurança de infraestruturas digitais essenciais, como o Bitcoin, que depende de criptografia robusta para garantir a integridade das transações.

Atualmente, o Bitcoin é protegido por criptografia baseada em curvas elípticas (ECDSA). Esse método é altamente eficiente e seguro em um cenário de computação clássica, resistindo a ataques convencionais.

Contudo, há uma visão de que a computação quântica pode desestabilizar essa segurança, com a possibilidade de quebrar os sistemas de criptografia tradicionais de forma exponencialmente mais rápida. Não é bem assim.

Impacto da Computação Quântica no Bitcoin

A computação quântica, por meio do algoritmo de Shor, tem a capacidade de realizar tarefas praticamente impossíveis para computadores tradicionais.

Este algoritmo permite a fatoração eficiente de grandes números, um processo que é a base da segurança dos sistemas de chave pública, como o ECDSA utilizado pelo Bitcoin.

Caso computadores quânticos suficientemente poderosos sejam desenvolvidos, eles poderão acessar as chaves privadas associadas a endereços de Bitcoin em questão de horas ou dias, comprometendo toda a segurança da rede.

Hoje, os melhores computadores quânticos têm cerca de 1.000 qubits, mas um ataque bem-sucedido à criptografia de uma única carteira do Bitcoin exigiria entre 13 milhões e 300 milhões de qubits.

Empresas como Microsoft, Google e IBM estão projetando computadores quânticos com o objetivo de alcançar 1 milhão de qubits até 2027-2029, mas mesmo esse marco não será suficiente para causar um impacto imediato. O avanço contínuo é inegável e cria a necessidade de preparação.

O Problema dos Bitcoins Perdidos

Além da ameaça quântica, o Bitcoin também enfrenta um problema significativo com os Bitcoins perdidos.

O problema é que o protocolo Bitcoin já passou por atualizações para melhorar a segurança, mas apenas de carteiras novas. Para um usuário que atualmente tem Bitcoins em uma carteira antiga, bastaria ele migrar seus Bitcoins para uma carteira mais nova e mais protegida. No entando, não seria possível fazer isso com os Bitcoins perdidos, de usuários que não possuem mais a senha ou de pessoas falecidas.

Estima-se que cerca de 1,6 milhões de Bitcoins estejam fora de circulação, com uma parte considerável pertencente a Satoshi Nakamoto, o criador do Bitcoin.

Se a computação quântica se tornar viável para quebrar o nível de segurança dessas carteiras mais antigas, existe a possibilidade de que esses Bitcoins possam ser recuperados, o que teria um impacto significativo na distribuição de riqueza dentro da rede.

Essa questão gera não apenas preocupações técnicas, mas também jurídicas e econômicas.

Soluções em Andamento

A comunidade de criptomoedas já está tomando medidas para proteger o Bitcoin contra os ataques quânticos. Uma das soluções mais promissoras é a implementação de assinaturas pós-quânticas.

Essas assinaturas são projetadas para serem seguras, mesmo em face dos desafios apresentados pelos computadores quânticos.

Diferente das assinaturas tradicionais, que dependem de sistemas vulneráveis à computação quântica, as assinaturas pós-quânticas utilizam algoritmos baseados em estruturas matemáticas que os computadores quânticos ainda não são capazes de quebrar.

Uma das propostas mais relevantes para a proteção do Bitcoin é o BIP-360, que introduz um novo tipo de endereço, o Pay to Quantum Resistant Hash (P2QRH).

Esse novo sistema utiliza esquemas de assinatura pós-quânticos, como algoritmos baseados em redes, lattices (redes vetoriais) e hashes de curva supersingular, que são resistentes aos ataques de computadores quânticos.

Implementar esse novo formato de endereços exigirá tempo e consenso dentro da rede, uma vez que afetará a forma como as transações são processadas e registradas na blockchain.

Exemplos de Implementação em Outros Setores

A adoção de assinaturas pós-quânticas e outras soluções resistentes à computação quântica já está em andamento em diversos setores além do Bitcoin.

Em 2019, o National Institute of Standards and Technology (NIST) dos Estados Unidos iniciou uma competição para definir os algoritmos pós-quânticos que serão usados em sistemas de criptografia do futuro.

Essa iniciativa tem como objetivo criar soluções robustas e eficientes que possam ser implementadas não apenas em criptomoedas, mas também em comunicações seguras, sistemas bancários, e até em setores governamentais.

Algumas empresas já estão testando soluções quânticas em áreas como assessoria financeira, onde os algoritmos pós-quânticos são usados para proteger transações financeiras sensíveis.

Na área de comunicações seguras, grandes players como Google e Huawei estão investindo pesadamente no desenvolvimento de redes de comunicação seguras que utilizam criptografia pós-quântica, preparando-se para um cenário onde os ataques quânticos possam se tornar uma realidade.

A Indústria de Defesa, particularmente, está utilizando algoritmos quânticos para garantir que suas infraestruturas e dados críticos sejam imunes a possíveis ataques.

Conclusão

Embora o impacto da computação quântica na segurança do Bitcoin ainda esteja distante, a ameaça existe e cresce com o avanço da tecnologia.

A implementação de assinaturas pós-quânticas e a proposta de endereços P2QRH representam passos importantes para proteger a criptomoeda contra ataques futuros.

O desafio está em realizar essa transição de forma planejada e coordenada, garantindo que todos os membros da rede Bitcoin adotem essas soluções em tempo hábil.

O futuro do Bitcoin depende da capacidade de adaptação da rede à nova era quântica. A resistência do Bitcoin à computação quântica não é garantida, mas o esforço contínuo para fortalecer a segurança da rede, juntamente com o desenvolvimento de criptografia pós-quântica, ajudará a garantir sua longevidade e confiabilidade em um mundo cada vez mais influenciado pela computação quântica.

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